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A loucura, a História e Nossa História

A loucura foi representada, através dos tempos como: dom divino, sem razão, desvio da norma, degeneração, perversão, sofrimento psíquico, etc. Para falar da história destas representações escolhemos ter como referência Michel Foucault (1972) quem, no livro história da loucura faz um estudo das condições históricas que fizeram com que a loucura passasse a ser entendida como doença mental a partir do século XIX.

O Pál Pelbart (1989) nos introduz no modo como os gregos entendiam a loucura fazendo referência no Platão e mais especificamente à obra Fedro, onde o autor afirma a existência de dois tipos de loucura: a loucura humana (produzida por doenças humanas, ou seja, por um desequilíbrio do corpo e a loucura divina, subdividida em quatro tipos: a profética (relacionada a Apolo), o ritual (inspirada por Dionísio) a poética ( que teria as musas como sua divindade) e a erótica (vinculada á deusa Afrodite). Esta segunda loucura divina, revela um entendimento como sendo um favor divino. O delírio era para os gregos, pleno de verdade.

Já na renascença (séculos XV e XVI) a figura do louco está vinculada a um saber esotérico que vem revelar uma verdade do mundo. Mas é ainda neste período histórico que começam a se delinear noções diferentes em relação à loucura. Neste momento, através da pintura vemos que a fascinação que as imagens da loucura exercem sobre o homem do século XV manifesta-se em figuras de animais fantásticos. A animalidade revela a monstruosa loucura que se oculta no interior dos homens: tudo o que neles existe de impossível e não humano.

Já na literatura e na filosofia; a loucura é concebida de outra forma. Nesse âmbito encontra-se que ela: oferece ao homem  a verdade de si mesmo.  Portanto, a loucura existe nos indivíduos humanos, isto é, há diferentes formas humanas de loucura. A partir deste momento então, a loucura passa a se inserir num universo moral perdendo assim suas características anteriores, ou seja, de saber a verdade sobre o humano.

É com o nascimento da sociedade burguesa e através do pensamento de Descartes
(século XVII) que, segundo esta vertente do pensamento, se firma e a loucura passa a ser entendida como a impossibilidade do pensamento e portanto, de saber. A verdade se vincula diretamente com a razão e, neste momento, entende-se que é justamente de razão que o louco carece. É neste sentido que há agora a criação de novas instituições para internar a loucura. Associa-se a loucura a um erro da razão e a internação vem não mais para reprimir as manifestações inadequadas, mas para ajudar a corrigir esse erro. É nesse sentido que se começa a pensar na questão de cura.

Em suma, a grande tarefa da internação no asilo era (e ainda é até hoje) homogeneizar todas as diferenças, isto é, reprimir os vícios e denunciar tudo aquilo que se opõem as virtudes da sociedade. Por isso mesmo, uma única diferença  vai poder manifestar-se através dessa instituição: a diferença entre o normal e o anormal. E esta divisão caberá ao médico, que passa a ser o representante dos valores desta sociedade. Um saber sobre a loucura que dará às ações do médico um caráter de objetividade e competência científica.

Este brevíssimo resumo da história da loucura tem como função ressaltar, que a loucura vai sendo decodificada a cada momento histórico de acordo com as concepções do mundo daquele momento.

Neste sentido temos também como referência o trabalho de Moscovici (1988), no qual discute o conceito de representação social. Estas representações estão na interface entre o psicológico e o sociológico e fazem parte de um processo de construções da realidade. A filosofia e a psicologia clássica designa o conteúdo concreto de um ato de pensamento, ou seja, a reprodução de uma percepção anterior de um resíduo inconsciente, de aquelas partes do objeto que se inscreve nos sistemas da memória.

Freud (1915) distingue as representações essencialmente sensoriais, derivam da coisa e caracterizam o sistema inconsciente. O fascínio com as premissas da psicanálise e as ideias de S. Freud foi imediato. Médicos, psicólogos e outros profissionais se sentiram tocados pelo método psicanalítico desenvolvido. Freud (1900) tem uma concepção dinâmica da vida emocional que ele considera como um processo em evolução de forças antagônicas; só uma parte dessas forças consiste o consciente do individuo em oposição, a outra parte, o inconsciente mental, composto de conteúdos muito mais ativos no determinismo da atividade mental. Vemos, portanto, a representação de um mesmo fenômeno  – a loucura –  onde um dos modelos, o do paciente, segue a linha das contribuições teóricas da psicanálise, no sentido de que é nas relações e na história de cada sujeito onde se encontra o sentido do enlouquecimento.