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O que Significa ser Psicanalista Hoje?

A Psicanálise trata-se de uma ciência que, em seus cento e vinte anos de existência, acumula uma quantidade considerável de conhecimentos sobre seu objeto: o inconsciente. Existe uma imensa literatura psicanalítica que o interessado terá de confrontar e conhecer o que existe em Psicanálise, como em qualquer outra ciência. É o primeiro momento de qualquer Formação séria. Mesmo as obras psicológicas de Freud, base de todo estudo nesse campo, é vasta e complexa. Diante dessa situação, exige uma leitura histórica e interpretativa dos textos Psicanalíticos. Ainda, as teorias elaboradas por alguns como Melanioe Klein, Winnicott, Bion, Lacan, Piera Aulagnier, A.Green Pontalis, etc. são profundamente desenvolvidas com a realidade e os problemas de seu tempo.

Parece útil recordar aqui o objeto da Psicanálise que é o inconsciente. É a gama de significados emocionais possíveis que se organizam, segundo um fio condutor que batizamos de desejo, com tendência a se manifestar à consciência e dai ao ambiente. A função do Psicanalista é elucidar o mundo intrapsíquico do sujeito, transformá-lo ou pelo menos propiciar as condições para que o paciente possa se autotransformar, auxiliado pelo Psicanalista. Essa circunstância coloca o Psicanalista numa posição de serenidade e cuidado com suas intervenções durante a sessão, que se dirigem ao paciente e têm por última finalidade, favorecer essa transformação.

Como o Psicanalista realiza esse trabalho? A escuta Psicanalítica é sensível diante dos fatos históricos e sociais, promovendo assistir uma abertura de nossas clínicas e práticas. Tornar-se analista é um processo que envolve o cumprimento do tripé: teoria-técnica; supervisão-prática, e analise pessoal. A formação analítica busca desenvolver no interessado as condições para que este processo ocorra, a partir do tripé. O Psicanalista na atualidade é um profissional como tantos outros que precisa estar inserido na sociedade de mercado e mostrar que seu saber é de importância tanto no campo do conhecimento científico como do terapêutico

O analista desdobra-se  em duas vertentes: investigação da história das ideias psicanalíticas e investigação dos processos psíquicos propriamente ditos. Ele está interessado nas motivações inconscientes. Os conteúdos de que necessita do seu paciente não podem ser selecionados a partir de um questionário a ser preenchido, como também não se pode programar um aplicativo para fornecer rotinas que são inconscientes nos indivíduos. Consideramos a psicanálise como uma ciência humana que, para ela, o conceito de símbolo ou significado é absolutamente central.

Assim, investigar em Psicanálise é interpretar a polissemia das situações observadas, ao contrário do que nas ciências empírico-formais. A interpretação faz-se necessária sempre que há mais de um sentido, sempre que as pessoas possam entender de formas diferentes ou ambíguas. Freud, que pensou no sentido de uma experiência vivida e nas vivências do mundo cultural, é um interprete que soube escutar seus pacientes com uma atenção peculiar.

A experiência do analista começa com sua análise pessoal, de tal maneira que ele possa reconhecer, antes em si mesmo, os objetos e os conteúdos psíquicos, as transformações, as funções e os fatores incomuns. Deve também identificar o sofrimento (em grego pathos), a angustia, a pulsão de vida e a pulsão de morte, de tal forma que quando estiver no lugar do analista passa também a reconhecer o sentido do que o paciente está vivendo. O analista deve ser capaz de decodificar e detectar sua prática de contratransferência para compreender os fenômenos produzidos pelo inconsciente durante a sessão. Isso cria uma pureza ou situação isenta no campo de observação e no tratamento. Por isso, é importante que todo terapeuta passe por supervisão e realize sua análise, com a finalidade de decifrar sua própria contratransferência. Além disso, será capaz de acompanhar a importância do trabalho microscópico na transferência e necessidade de criar hipóteses e modelos que melhorem o acesso a psicopatologias específicas.

Aliás, o paciente ao usar a “associação livre” não se refere tanto ao modelo médico, mas aos conteúdos intrapsíquicos mais profundos. Assim, o paciente aprende com o seu sofrimento, em grego pathos-matheno. Por isso, a experiência analítica é também uma experiência de crescimento, de transformação, numa tentativa de resolver conflitos, que tem tudo a ver com a busca da verdade. Em grego, a palavra verdade significa aletheia, no sentido do não esquecimento. Portanto, do ponto de vista da formação analítica, a “Supervisão” deve ser considerada uma autêntica ocasião de “aprender com a experiência”, segundo Bion (1961).

O Analista está interessado na realidade psíquica e na maneira como nosso método influi na evolução do processo psíquico que conduzimos. Está voltado apenas para aqueles aspectos da realidade externa que influenciaram, de forma marcante, o psicodinamismo do paciente.

Consideramos que o psicoterapeuta analista é essencialmente um investigador ou arqueólogo do psiquismo que, à medida que investiga, auxilia o paciente na integração de si mesmo e no descobrimento e reencontro de sua verdade. É essa continua busca da verdade (aletheia), da realidade psíquica, que fundamenta o trabalho e a ética do analista, utilizando a sua técnica de interpretação. Em Freud (1900), encontramos a teoria da “interpretação de sonhos”, importante para análise do paciente. O psicanalista trabalha com a técnica de interpretação para entender a fala humana, que passa a ocupar um papel central no processo analítico. A interpretação psicanalítica é tanto uma técnica hermenêutica (surge do verbo grego herminevo, que significa traduzir), que compreende os sentidos, quanto uma energia que explica as forças em jogo na psique humana. O analista não se preocupa com os fatos em si, somente com o sentido que estes fatos fazem para o paciente. O que importa é o modo pelo qual o paciente conhece e vive seu ambiente, mesmo que ele perceba de modo distorcido em comparação a uma observação objetiva. Então, o meio ambiente significa coisas diversas para a psicanálise.

Na relação analítica, tudo que aparece é subjetivo, e a transferência se dá exatamente nessa subjetividade do paciente. A elaboração do inconsciente é uma tarefa executada na transferência: suas representações precisam ser interpretadas e serem compreendidas. A análise, portanto, pressupõe um momento de construção ou de reconstrução. O próprio terapeuta colabora com este momento por meio de suas construções interpretativas.

Finalmente, quando o analista escuta seu paciente, cria-se um campo transferencial. Podemos dizer que as atuações do paciente devem ser elaboradas e interpretadas, proporcionando ao paciente um insight, ou seja, que algo se descubra e mostre a verdade, uma espécie de desenvolvimento e desesquecimento.

 Aqui, podemos lembrar as palavras de sabedoria que estavam inscritas à roda do grande templo do oráculo de Apolo a Delfos: “conhece-te a ti próprio”. O filósofo Sócrates era considerado pelo oráculo o homem mais sensato do mundo. Ele teria provavelmente interpretado aquelas palavras como: “A vida não examinada não merece ser vivida”. Para Nietzsche, “os símbolos apontavam para a libertação do eu.” Na época de Freud, “conhece-te a ti mesmo” significava a procura introspectiva do eu real, a busca das nossas motivações profundas. No início do nosso século, na era da pós-modernidade, a frase passou a significar também “sabe de onde vens, uma vez que o passado não pode ser destruído e deve ser conhecido”. Tal como Freud disse que “a infância deve ser estudada para se compreender o adulto”, assim devemos nos olhar para a infância da humanidade. Pelas palavras de Richard Jenkins (1980), se conseguirmos conservar estas duas partes (passado e presente) e jogar uma contra a outra, podemos aprender algo sobre o passado e sobre nós próprios.

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