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Porque o Édipo é o Mito mais Estudado?

Prof. Dr. Antonios Terzis CRP 06/25883

Freud (1856-1937), que reuniu os desenvolvimentos das ciências da vida efetuados no século XIX para chegar a uma nova ciência da mente, foi o influenciador e fundador da Psicanálise. Desde então o mito grego do Édipo serve em geral como uma Psicologia profunda, compreendendo a realidade psíquica e os complexos familiares simultaneamente, sendo uma prova da extraordinária riqueza psíquica da Grécia antiga. A Grécia nos oferece uma oportunidade de revermos as nossas realidades psíquicas e a nossa psicologia através de lugares e pessoas imaginários. Uma parte do pensamento grego está ao mesmo tempo muito distante de nós e muito próximo, no sentido em que se depara também com os mesmos problemas.

Freud (1900) viu os mitos, tal como os sonhos, como expressões codificadas do inconsciente, no entanto, ao contrário dos sonhos, eles são partilhados em público. Freud diz: “Se puderem os mitos ser compreendidos, nós ganhamos acesso ao nível da mente humana que é a chave para a saúde mental. Os mitos são uma pista para a nossa própria história psíquica.” Freud invocou o mito de Electra, que amava tanto o pai que matou a mãe, e o mito de Narciso, que gostava tanto de si próprio que virou as costas à vida social (Ninfa Eco). Nas suas últimas obras adotou as palavras gregas Eros e Thanatos, que significam “amor” e “morte”, como palavras-chave nas suas teorias.

Freud estudou a peça de Sófocles “Rei Édipo” na escola e ela lhe causou muito fascínio. Este deslumbramento fez com que ela se encaixasse eventualmente em seu lugar próprio à medida que as suas teorias psicanalíticas progrediam. Em 1897 escreveu num texto “o poder dominador do Édipo torna-se inteligível, cada membro da audiência era um Édipo em germinação na fantasia.” Então na sua primeira grande obra publicada, “A Interpretação dos Sonhos (1900)”, refere como prova virtual a passagem de Sófocles em que Jocasta tranquiliza Édipo: “Quanto ao casamento com a mãe, nada temas. Muitos homens antes de ti partilharam em sonhos a cama com a mãe.”

Antes do século XX, o mito de Édipo não tinha atraído atenções particulares, mas neste século Édipo tem sido talvez o mais estudado e referido de todos os mitos gregos. Isto deve-se em larga medida à menção feita por Freud em 1900, mas tem havido outras interpretações diferentes do mito e da peça de Sófocles que também refletem de forma plausível e poderosa algumas preocupações contemporâneas, sendo uma ilustração de suas riquezas.

Alguns estudiosos viram este mito antes como o fenômeno da urgência e até mesmo a necessidade do homem em continuar a sua busca, qualquer que sejam as consequências; outros descobriram o poder do mito no seu sentido de destino e das forças que trazem os acontecimentos à sua conclusão predestinada. O Existencialismo, com Sartre, diz: “o desejo de autoconhecimento é uma condição da existência e não deve ser comprometido.” Assim,  Édipo avança na busca da sua própria identidade e apesar de tudo, Jean-Pierre Vermant vê a movimentação deste personagem na peça de Sófocles. Ele vai dos extremos da Fortuna, poder e prosperidade aos seus opostos, afastando-se da cidade de Thebas, levando com ele as pragas e os males do mundo.

A tragédia da vida de Édipo passa por um enorme ciclo, terminando como marido do ventre em que foi concebido (“Mãe-Esposa Jocasta”). Como o próprio personagem do mito grego, vivemos inconscientemente dos desejos que ferem nossas convicções éticas, as quais nos sujeitam a natureza. Conhecendo-os, preferimos apagar da memória as cenas de nossa infância. Porém, a concepção do “Complexo de Édipo”, tão bem apresentada por Freud, tornou-se uma das pedras angulares da Psicanálise. Assegurava que constitui-se como mecanismo fundamental do desenvolvimento psicossexual da criança, e que nele estão a causa do desenvolvimento patológico e a base das neuroses. Ai está, segundo Freud, a chave de uma autêntica compreensão da história e da evolução da religião e da ética.