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CLÍNICA PSICANALÍTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 

Este tema nasceu de uma experiência de nossa clinica com crianças e adolescentes, quando aplicamos um projeto de “Clinica psicanalítica em crianças e adolescentes”, desenvolvido na clinica Terzis. O princípio fundamental para entender essa população (crianças e adolescentes) foi capitalizar a riqueza da intertextualidade psicanalítica, (Freud, M. Klein, Le Forte, Winnicott, Bion), assim como o método psicanalítico aplicado em crianças e adolescentes.

Pensamos que a importância do tema merece um esforço sério no sentido do psicanalista que trabalha com crianças e adolescentes, situar-se frente ao corpo da teoria como uma pequena “criança” sobre o corpo materno, extraindo dai os significados dos quais vai se posicionar. As referencias teóricas e minhas próprias reflexões sobre este modo peculiar da “clinica psicanalítica em crianças e adolescentes”, implica certas especificidades que a caracterizam. Dentro delas a mais central é que a criança e o adolescente estão se constituindo como sujeito.

O assunto é muito vasto, polemico pouco estudado de maneira compreensiva embora alguns autores psicanalistas, tendem encara-lo com coerência dentro da técnica psicanalítica geral. A psicanalise infantil, sempre aceitou a presença da família no tratamento da criança. Os primeiros atendimentos sempre foram muito simples e eram reduzidos a um tipo de aconselhamento e apoio para filhos e pais.

Posteriormente aos trabalhos desenvolvidos por Anna Freud, Melanie Klein, Winnicott e outros, a criança passou a ser analisada individualmente e o problema da criança pertencia a ela. Mais tarde ainda, nos anos de 1940, as sementes lançadas a partir dos anos 1920 permitiram que se desenvolvessem na Europa e Estados Unidos, amplos programas de higiene mental e um tipo de instituição foi criada, chamada: Clinica de orientação infantil. Essas clínicas se consideravam inerente ao atendimento da criança um mesmo tipo de tratamento para a família e o desenvolvimento de um plano de ação que pudesse sensibilizar e influenciar a sociedade.

Durante o tratamento de crianças e adolescentes, os terapeutas incluíam a família, cuja presença nem sempre é solicitada pelo psicoterapeuta. A família é introduzida pela própria criança na sua fantasia e na realidade. Freud quando fala sobre “uma fase do eu” em psicologia das massas dizia: cada individuo forma parte de varias massas, nas quais se liga por identificação, em diferentes sentidos e constrói seu ideal do eu conforme diferentes modelos. Participa assim de muitas almas coletivas: as de sua raça, sua classe social, sua comunidade, seu estado, etc e pode, além disso, ter certo grau de originalidade e independência.

Freud, documentando sua pesquisa clinica em relação à teoria do inconsciente, apresenta o caso Dora. As informações iniciais sobre a adolescente foram fornecidas pelo pai da mesma e dessa forma a Dora e o analista tinham conhecimento de toda sua historia familiar. Em se tratando de crianças, a introdução da família, em quase todos os sentidos não só é importante como necessária, pois ela fara o primeiro contato e fornecera os dados familiares. Posteriormente, já em fase de tratamento da criança, a introdução da família seria passiva, por intermédio de atitudes, verbalizações e simbolizações da criança.

Conhecer a família real é importante, pois além de dados objetivos de valor questionável em nosso caso, a família trará sua origem, meio cultural e econômico, tipo de educação, sonhos e aspirações, sobretudo sua visão e expectativa em relação sua criança ser em tratamento.

A partir do momento em que os problemas emocionais infantis começaram a ser observados em maior consideração, a atenção começou a ser dada a pequenos sinais que no futuro poderiam estruturar uma neurose ou desvio de comportamento. Assim, as teorias psicanalíticas sistematizadas por Sigmund Freud abriram novas perspectivas para a prevenção de distúrbios psíquicos. Sob a influencia das teorias psicanalíticas, criaram na América do Norte a clinica de orientação psicanalítica infantil, reunindo o trabalho em equipe (psiquiatra, pediatra, psicólogo, etc), a fim de formular-se um diagnostico global com indicações psicanalíticas. Em Londres, por exemplo, destaca-se a clinica Tavistok e a clinica Anna Freud na formação do psicanalista de crianças. Na América do norte, na Europa e na América latina os psicanalistas desenvolveram fora dos institutos psicanalíticos a técnica da psicanalise de crianças.

Em relação a esse desenvolvimento histórico, temos de fazer referência ao corpo teórico da psicanálise a partir da década de 1950. Momento este em que se produz uma postura no campo dos “processos mentais inconscientes” que cada vez mais estes processos vêm a entrar em dependência com o conceito de “função”.  Partindo deste conceito de “função”, como disparador da constituição subjetiva, indagador da relação de objeto, este lugar do outro primordial, do outro do mito familiar, este lugar do outro é um dos pontos centrais da psicanálise atual. Ai onde Melanie Klein sustenta: “no princípio está à fantasia” (respondendo na pulsão da morte). Winnicott mais tarde vai anunciar: “no princípio está à função materna e os objetos transicionais”.

No momento do nascimento a criança ingressa a um espaço não acessível diretamente ao sentido comum, onde começa a “preocupação maternal primária”. Espaço que é também o espaço dos outros, o lugar onde intervêm os sons, as olhadas, o tato, que qualificam os processos de forma abstrata e quantitativa do prazer e desprazer produzindo tensão no funcionamento do organismo.

Nesta rede de significados é onde o corpo prematuro do bebe vai tornando o que necessita para viver. Sutil, mas efetivamente o corpo da criança se vê capturado nas redes do desejo do outro. Este corpo, primordialmente desamparado tomado o seu cargo pela lei da aliança é escamoteado pela linguagem, será recebido como corpo do sujeito através desta primeira mediação significante.

E enfim, segundo Lacan (1971), no seu trabalho “o estado do espelho como formador da formação do ego” tal como nos revela na experiência psicanalítica diz: antes o brincar do bebê frente a sua imagem refletida no espelho, é importante pontuar, que o momento especular se inaugura.