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Psicanálise e as Doenças Psicossomáticas

Ao longo da vida, com frequência enfrentamos situações inesperadas, geradoras de intensas angústias. Se por um excesso, essas angústias não podem ser digeridas, elas transbordam para o corpo, que adoece. As doenças psicossomáticas podem ser consideradas uma modalidade de descarga de angústias que não podem ser pensadas e que são provenientes de experiências traumáticas sofridas em fases precoces do desenvolvimento do indivíduo. Essas vivências precisarão ser nomeadas, para então, serem pensadas e elaboradas, ao invés de serem canalizadas sobre o corpo.

Quadros de diabetes, dermatite, fibromialgia, doenças autoimunes, entre outras enfermidades, podem se manifestar em momentos de conflito psíquico. Não é possível dar aqui uma descrição detalhada de todas as doenças orgânicas cuja etiologia pode ser psicossomática; somente queremos citar alguns exemplos particularmente característicos, que atingem diferentes sistemas.

Algumas condições psicossomáticas acometem o sistema cardiovascular, primeira linha entre os receptores influídos pela reatividade emotiva ou pela irritação simpática; a ansiedade pode manifestar-se com desconfortos torácicos ou arritmias que podem fatigar o coração, especialmente se este apresenta lesão prévia. Porém, devemos distingui-los dos sinais e sintomas análogos observados nas cardiopatias orgânicas. Ademais, os transtornos emocionais e a inquietude podem agravar as cardiopatias ou comorbidades existentes.

A hipertensão arterial, uma das enfermidades da civilização moderna, é uma anormalidade de adaptação. Desequilíbrios nervosos, o “mal-estar” e todos os conflitos emocionais repercutem no rim. Por sua vez, os numerosos reflexos condicionados que podem atuar sobre o mesmo, contribuem no desencadeamento do processo hipertensivo. (Selye, 1960). No sistema digestivo, os espasmos esofágicos, os vômitos, os casos tão numerosos de dispepsia com hiperacidez gástrica tem também origem psicossomática. As emoções tem, como se sabe, considerável efeito sobre a digestão. Também integra o quadro a anorexia nervosa, falta de apetite que conduz a uma rápida desnutrição (Schilder, 1958). É conhecida a influência do psiquismo sobre o funcionamento intestinal, diarreia e constipação. Alexander (1952) formulou explicações “psicodigestivas”, cada qual pertencente a uma categoria de perturbação psíquica inconsciente.

Evidentemente é no domínio da sexualidade onde ocorre a mais abundante gama de afecções psicossomáticas: atuam durante a puberdade, relações sexuais, menopausa. Trata-se de um domínio específico da psicanálise e, portanto os conflitos entre instintos, educação e comportamento, são correntemente abundantes. Quantas impotências, frigidez, vaginismos, disfunções sexuais podem ter efeitos psicológicos inconscientes?

Ainda, estudiosos acham um fator psíquico inconsciente em inúmeras patologias reumatológicas, no desencadeamento da crise de asma, cefaleias e doenças de pele, que estão em relação de extrema dependência com as emoções. Alguns quadros endócrinos e metabólicos também são enfermidades da adaptação, que podem provir de desequilíbrios hormonais de origem psíquica (Sehuin 1960).

Os transtornos psicossomáticos estão relacionados à angustia em sujeitos inadaptados na vida. Por isso, uma vez inconsciente, esta angustia pode remeter-se à profunda dor mental e à dificuldade de tolerar o sofrimento que leva o paciente, muitas vezes, a utilizar seu próprio corpo para se defender. Contudo, essas situações só são considerações traumáticas porque se ligaram a um trauma anterior, relacionado a perdas significativas na infância

A ciência da psicanálise encontra-se em permanente evolução e expansão. A revolução por S. Freud ao colocar o fenômeno inconsciente como centro da vida mental prossegue com inúmeros desdobramentos. As descobertas da Psicanálise oferecem uma solução convincente ao problema mente/corpo, o dualismo psique/soma para a atualidade das pulsões. A Psicanálise estabelece a origem do processo de pensamento no conflito inicial. A escolha deste tema foi intencional e marca o desejo de que este artigo abra as fronteiras entre a “Psicanálise” e as “Doenças Psicossomáticas”.

O objetivo de um atendimento psicanalítico é,   por meio do encontro entre analista e paciente, criar condições favoráveis e necessárias para ampliar o repertório psíquico do paciente, de modo que ele possa pensar em seus conflitos ao invés de depositá-los em seu corpo. Consideramos que por trás da simplicidade de fenômenos comuns pode haver causas bastante complexas e nossas teorias devem ser consideradas como contribuições que nos ajudam a pensar e auxiliar os pacientes.

Como seria então, trabalhar o profissional da saúde com tantas variáveis e com a disponibilidade para ouvir e acolher as angústias do paciente com uma escuta qualificada e diferenciada? Como é trabalhar em um setting psicanalítico tão diferente do setting do médico? Consideramos importante uma formação psicanalítica que enriqueça o profissional das ciências da saúde e o habilite para o trabalho no consultório e hospital, ampliando sua formação e visão. O profissional da saúde de hoje deve estar preparado para ser confrontado com os aspectos mais obscuros e compreender a proliferação das patologias de conflitos psíquicos. Em seus 26 anos em Campinas e 10 anos em Piracicaba, na “Casa do Médico”, o Centro de Formação e Assistência à Saúde tem construído um trabalho sólido na área da Psicanálise e Saúde Mental. Norteado pelo compromisso e ética, coloca o trabalho clínico numa perspectiva responsável com seu tempo e sua realidade social.

Referencias Bibliográficas

Alexander, F. La Médecine Psychosomatique Payot, 1952

Sehuin, C.A: Introduccion a la Medicina Psicosomatica. B.A, Paidos, 1960.

Selye, H. Tension em la vida. B.A. febril, 1960