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A Tatuagem: Uma Compreensão Psicanalítica

O termo tatuagem encontra sua origem nas ilhas da Polinésia e revela o vínculo desta com o pensamento animista, atribuído às sociedades primitivas. A tatuagem sobre o corpo permitia beneficiar-se com os favores dos espíritos ou proteger-se de seus castigos. Para os habitantes primitivos do Taiti era um reflexo cutâneo de um modo de funcionamento social.

Atualmente, nas nossas sociedades contemporâneas o ato voluntário de tatuar-se mostra um gesto individual e neste sentido é um ato privado. Pelo desenho na pele, seu grafismo é visto coletivamente e denota frequentemente o pertencimento a um grupo etário, cultural, social, etc. Na história da tatuagem encontramos que não só os miticos nórdicos fizeram uso da tatuagem, mas isso existia desde a pré-história e a aparição do grafismo nos muros das cavernas. É importante citar o lugar inicial do corpo como signo desde as sociedades dos homo sapiens na Europa (ANZIEU, 1987. “Les Signifiants Formels et le Moi-Peau”, Paris, Edit. Dunod).

Encontramos provas verdadeiras da tatuagem, por exemplo, no Egito, através das múmias e como valor anedótico, a sacerdotisa Hathour Amounet, que era uma concubina real (2160 a.c.), apresentava tatuagens no seu ombro esquerdo, no ventre e no rosto. Inicialmente abstratas, as tatuagens figuravam na época do novo império. A tatuagem está ligada a Eros, e mais tarde, ela se converte em signo de poder divino, castigo e proteção ao mesmo tempo (TENENAHAUS, 1993. Le Tatuage A’ L’ Adolescence, Paris, Edit. Boyard).

Quando se fala da tatuagem na história, não se pode ignorar o uso que fizeram dela nos campos de concentração, com a marca de números de identificação nos prisioneiros como um ato para tirar-lhes a subjetividade. Entretanto, se trata, evidentemente, de uma marca da morte, já não ligada a Eros como nos primeiros tempos, mas sim a Thanatos.

Neste texto me limitarei portanto às tatuagens voluntárias e sua compreensão inconsciente desde uma perspectiva psicanalítica, e além dos valores culturais comuns que determinam sua escolha. Cosidero importante citar o caráter heterogêneo e polissêmico das tatuagens desde um ponto de vista metapsicológico. Na maneira da imagem de um sonho (ANZIEU, 1990. O Grupo e o Inconsciente, Paris, Edit. Casa do Psicólogo), a tatuagem é antes de tudo a expressão gráfica de uma produção psíquica inconsciente do sujeito. Ela denuncia um ato de linguagem a meio caminho entre uma escritura que se aproxima do hieroglifo, com seus simbolismos, e a oralidade discursiva. Representação substitutiva, a imagem impressa na pele adquire valor metonímico do mundo intrapsíquico. A tatuagem é uma tentativa de oferecer na superfície do próprio corpo a realização a uma representação de um afeto ou desejo reprimido no inconsciente. Porém, precisamos olhar com atenção as imagens das tatuagens, pois elas podem ajudar a explicar a razão pela qual foi produzida ou pode tratar de assuntos angustiantes, com rupturas, conflitos, coisas a ocorrerem e tornarem-se obscuras.